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Foto do escritoroba estúdio

Para além dos beats: o sample como artifício visual

O hip-hop, por essência, é subversivo e autêntico. Sua abordagem artística muitas vezes não é nada singela e minimalista e serve como protesto, uma autoafirmação que fala sobre quem é você e de onde você vem. É o grito de uma tribo.


“Guerra de ego quem que quer se o mais visto  
Tu lembra dos manin pixando a cabeça do Cristo” Pumaplj - “Você Está Com Febre?”

O movimento transformou o cenário musical e espalhou-se pelo mundo. Sua peculiaridade está na capacidade de que cada sociedade mistura diversas influências e vivências, criando sempre algo novo a partir dele. 


É poder colocar o Bebop no samba, remixar o tamborim, cantar as mazelas e poesias do seu meio utilizando sua cultura a seu favor. É sobre um brasileiro rimar em cima de um samba, não de um jazz.



Marcelo D2 construiu seu trabalho na mistura do rap com o samba. Isso fica ainda mais evidente com o álbum “Marcelo D2 canta Bezerra da Silva”, revelando a forte influência do pernambucano radicado no Rio de Janeiro em sua vida.


Essa capacidade de desafiar e questionar as normas faz do hip-hop um caldeirão de experimentações e possibilidades. Nessa busca por algo novo a partir do que já existe, o hip-hop se reinventa e reinventa o passado se apropriando de símbolos como roupas, imagens e linguagens. Ele se transforma em uma ferramenta que une herança cultural e tradições musicais locais, abrindo espaço para o resgate e a reinterpretação da arte, como ocorre com o uso do Sample.



Em entrevista para Trip Tv, Mano Brown reflete sobre passado e presente dentro do hip-hop.


O sample é uma técnica que utiliza trechos de músicas que já existem e as incorpora em um novo beat. O rap, por natureza, faz uso do sample com diversas finalidades, seja para reforçar a mensagem da música, preservar suas tradições musicais ou explorar novas estéticas sonoras.



KL Jay relembra história do hip-hop e explica o surgimento do Sample.


Artistas que estavam no anonimato, como Arthur Verocai, foram redescobertos e passaram a ser referência e influenciar algumas obras do gênero, como o álbum "Autodomínio" do rapper Pumapjl. Ele faz uma referência direta ao álbum “Na Boca do Sol” de Arthur Verocai, de onde extraiu inúmeros samples e experimentos musicais.



Baco Exu do Blues - A Pele que Habito com sample de Arthur Verocai - Dedicado à Ela



Marcelo D2 ft Sain e Djonga - Pelo que eu acredito com sample de Arthur Verocai - Dedicado à Ela



Alguns rappers não se limitam aos samples musicais, eles vão além e sampleiam visualmente obras de artistas que têm influência em sua vida ou na cultura local.

Exemplo disso é Milton Nascimento, um grande nome da música brasileira que teve dois trabalhos sampleados visualmente. Ambos os álbuns que o samplearam também se tornaram clássicos dentro do hip hop.



Bk ,em seu primeiro álbum de estúdio, lançou "Castelos e Ruínas", um clássico dentro do movimento no qual faz referência ao primeiro álbum de Milton Nascimento, o também clássico "Travessia".



Em seu álbum de estreia "Heresia", o mineiro Djonga fez uma referência direta a icônica capa do Clube da Esquina de Milton Nascimento e Lô Borges.


Artistas como Jorge Ben Jor, também se tornaram  um baú de descobertas cheio de possibilidades de criação, seja de samples musicais, músicas em sua homenagem ou referências à sua obra, incluindo suas icônicas capas.



O álbum "Bem-Vinda Amizade" de Jorge Ben teve sua capa sampleada no álbum "ErreJotaCultDrill Vol. 1" de Big Blakk.



Tárcis usou como referência para capa de seu single a capa do álbum "Salve Simpatia", também de Jorge Ben.


A clássica capa de “A Tábua de Esmeralda” foi repaginada com elementos da cultura popular e do trap no álbum “MPFB – Músicas Para Fumar Balão”, de Derxan e Big Blakk.



"A Tábua de Esmeralda" de Jorge Ben Jor, e ao lado o álbum "MPFB – Músicas Para Fumar Balão”, de Derxan e Big Blakk.


A cultura do sample é tão enraizada dentro do mundo do hip-hop que artistas do gênero fazem referências a artistas do gênero, uma cultura que bebe de sua própria fonte e cria outras representações.



Capa do álbum "O menino que queria ser Deus" de Djonga, e capa do single "O menino que virou Deus" de Kyan.


Samplear visualmente um álbum é trazer uma perspectiva pessoal sobre a obra do autor, ou talvez uma linguagem moderna do que já foi criado há algum tempo. Independentemente do motivo do sample, o experimento é importante para manter a criação e redescobrir o passado, contribuindo de forma positiva para a cultura das novidades.


Nessa mistura, onde a referência se torna tão clara em diversas camadas das obras, o designer responsável pelos projetos gráficos é semelhante ao DJ por trás das pickups ou aos writers com suas latas na mão. Ele se torna uma ferramenta possibilitando que uma estética seja construída e moldada, para que assim, a identidade do movimento possa tomar forma e espaço. Empresas como Pen & Pixel, Cey Adams, Jonathan Mannion, entre outros, não apenas fizeram trabalhos para rappers, mas construíram uma linguagem visual que ainda se redescobre em si mesma.



"INRI" é o primeiro álbum da banda Sarcófago, forte na cena do underground do metal mineiro. O rapper FBC, também mineiro, reproduziu a capa em seu primeiro álbum "S.C.A". 



Capa do álbum de estreia de Arthur Verocai, e ao lado, capa do álbum "Autodomínio" do rapper Pumapjl.


Com isso, a atividade de samplear se torna tão necessária dentro do movimento hip-hop. Ele possibilita recriar e trazer uma nova roupagem para a forma de se comunicar ou expressar sentimentos. Não é apenas um trecho de uma música ou uma releitura da capa de um álbum, é resultado de descobertas e vivências na vida de cada artista e suas obras. Um exercício de renovação, valorização, em que você reescreve o passado e muda o cenário presente a partir de um novo olhar.







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